Você sabe o valor do produto ou só da parcela?
Já reparou que os comerciais em televisão e rádio e os panfletos recebidos nos semáforos raramente anunciam o valor do produto? Eles apenas anunciam o número e o valor das parcelas.
Isto acontece pelo mau hábito que o brasileiro adquiriu de não se importar com o preço do produto ou serviço, a preocupação recaí apenas no valor da parcela, se temos ou não condições de arcar com ela. Se tivermos, compramos, senão, não compramos ou tentamos dar um jeito de comprar mesmo assim e depois pensar como iremos pagar.
Até o Plano Real (1994) que estabilizou nossa moeda, vivíamos inflações galopantes todos os meses. Era comum as pessoas receberem seus salários e de imediato se dirigirem ao supermercado para abastecer seus estoques. Isso acontecia porque ao longo do mês o dinheiro perdia metade de seu valor de compra, os produtos tinham seus preços remarcados diariamente, às vezes mais de uma vez ao dia. Eu era criança nesta época e acompanhava minha mãe ao Cândia (supermercado localizado na Freguesia do Ó em São Paulo, bairro onde eu morava) para fazer compras. Isso acontecia, me lembro muito bem, no mesmo dia que meu pai recebia o pagamento.
Naquela época, o lema era torrar tudo o mais rápido possível, caso contrário seu dinheiro seria corroído pela inflação diária, isto mesmo, diária.
Mas isto é passado, hoje o dragão da inflação é menos feroz e podemos programar nossos gastos com racionalidade. Investir naquela época também era mais complexo, afinal, não tínhamos as facilidades tecnológicas de hoje, não tínhamos Internet. A bolsa de valores era aquela loucura que ainda permeia a memória de muitos: homens de gravata gritando freneticamente com as mãos ao alto.
O lado ruim disto foi esta cultura de torrar tudo que ficou. A grande maioria das pessoas acha que o dinheiro recebido no mês deve ser gasto integralmente no mesmo mês, poucos se propõem a poupar parte da renda e pouquíssimos a investi-la. Nunca é demais frisar que você deve economizar ao menos 10% de sua renda mensal e investi-la pensando na independência financeira futura, ou ao menos numa aposentadoria com menos restrições; e também que você deve ter uma reserva para emergências, o famoso colchão de segurança, que irá amortecer sua queda caso você perca sua fonte de renda amanhã (emprego). A função do colchão é suprir seus gastos mensais até você se recolocar no mercado de trabalho.
Agora é impressionante como nós adoramos um carnê, uma parcela, um financiamento. Outro dia eu estava em uma loja e vi uma senhora comprando um liquidificador em 17 parcelas de 5 reais e alguma coisa. A loja lhe entregou um belo e gordo carnê. Provavelmente ela irá gastar mais com o transporte todo o mês que se dirigir à loja para quitar à parcela do que com a própria parcela. Mas a cultura do carnê está tão arraigada na mente do brasileiro que a grande maioria da população tem algum, na verdade é raro quem não tenha.
Não sou contra compras parceladas, tenho ciência que muitos brasileiro só conseguem as coisas através do financiamento. Minha critica vai em parcelar sem pensar, sem pesquisar, sem realmente saber o que se está fazendo. As lojas iludem consumidores e os fazem comprar por impulso produtos que são desnecessários, supérfluos. Penso eu que só deveríamos comprar de forma parcelada produtos realmente necessários, produtos supérfluos, só à vista.
E para finalizar, mesmo que o anúncio divulgue apenas o valor da parcela e não o preço real do produto é direito seu conhecê-lo. Pergunte o valor do produto à vista e o CET (custo efetivo total) dele parcelado, tenha ciência do valor mensal dos juros cobrados, aí negocie taxas menores, não aceite a primeira oferta. Também pense bem se vale à pena pagar toda aquela taxa por aquele produto, se você realmente precisa daquele produto naquele momento ou se não dá para adiar a compra dele um pouco mais.
Deseja comprar? Compre. Mas compre de maneira consciente e não se deixe levar pelo valor da pequena parcela.