O que é juro
Tenho recebido alguns pedidos de leitores para escrever textos mais básicos. Sendo assim, vou fazê-lo.
Hoje vamos falar de juros.
É fato que preferimos consumir hoje ao invés de adiar o consumo para uma data futura. Este consumo pode ocorrer de forma a fazer uso de todos os recursos disponíveis, e desta forma não gerar excedente e nem dívidas. Quanto isto acontece dizemos que existe uma situação neutra, todos os recursos ganhos foram consumidos. Há um empate entre entradas e saídas, ou seja, há um fluxo de caixa neutro.
Quando se deseja consumir algo hoje, mas os recursos disponíveis são insuficientes para pagar este consumo, o individuo pode fazer uma de duas escolhas: adiar este consumo e somente fazê-lo quando tiver recursos suficientes, ou tomar dinheiro emprestado. Quanto se escolhe a segunda opção: tomar dinheiro emprestado; deve haver do outro lado da negociação um indivíduo que fez a escolha de adiar o consumo: para este emprestar ao que não quer adiá-lo. Assim o individuo que poupou empresta seu dinheiro ao que deseja consumir hoje, e este lhe paga um prêmio: o juro.
Em teoria, o valor do juro é autorregulado pelo mercado, pelas preferências de consumo de tomadores e emprestadores.
Quanto mais pessoas desejarem antecipar o consumo recorrendo a empréstimos, maior será a procura por crédito, e desta forma um maior prêmio (juro) será exigido pelo emprestador.
Quanto maior a poupança, menor o juro do mercado. Isto porque se a poupança cresce, significa que mais pessoas estão dispostas a adiar o consumo para poder consumir mais no futuro. O contrário também é verdadeiro.
A renda fixa
Investimentos em renda fixa existem por haver preferência de consumo hoje por parte de cidadãos, empresas e mesmo do governo, mas estes não possuírem recursos suficientes. Também existem os poupadores, pessoas que possuem um fluxo de caixa excedente (superavitário) e podem emprestar suas economias e receber juros por isto.
A verdade é simples: quanto mais você adiar seu desejo de consumo, mais poderá consumir no futuro, pois poderá pagar menos juros ou mesmo não pagar juro algum: isto quando realizar a compra à vista. Você ainda poderá adiar seu consumo e emprestá-lo àqueles que não estão dispostos a adiar o consumo e preferem consumir pagando um excedente (juros). Isto se chama investir.
Investir nada mais é que consumir menos, poupar recursos e emprestá-los a alguém que tem preferência por consumir hoje, mesmo não tendo condições, e para isto recorre a empréstimos.
Agiota
Infelizmente você não pode emprestar o dinheiro ao seu vizinho. Isto é agiotagem. Em nossa economia existem agentes autorizados a fazer a intermediação dos empréstimos: bancos, empresas e o governo.
Estes são os agentes autorizados a intermediar o empréstimo de dinheiro dos poupadores para os emprestadores: os bancos, através da caderneta de poupança ou um CDB, por exemplo; empresas, através da emissão de títulos, as debêntures; e o próprio governo, através da emissão de títulos públicos.
O lucro obtido através de investimentos em renda fixa se dá pela preferência temporal do mercado (consumidores: sejam as pessoas físicas, as empresas, ou o governo), onde alguns estão dispostos a adiar o consumo para poder consumir mais no futuro, enquanto outros querem consumir além do que possuem, e estão dispostos a pagar juro.
Renda variável
Já, em regra, os investimentos em renda variável: ações, por exemplo; possui uma lógica um pouco diferente. O investidor acredita na geração de fluxo de caixa positivo da empresa e resolve se tornar sócio dela. Assim ele compra suas ações, uma pequena parte da empresa, e espera lucrar com a distribuição do lucro que ela irá obter (dividendos), ou ainda pela valorização do preço da ação. Esta valorização acontece por a empresa ter agregado valor – e aqui não cabe discutir o motivo de isto ter acontecido – e estar valendo mais no mercado.
Notem a diferença: enquanto a rentabilidade da renda fixa é gerada pela preferência temporal de consumo, a da renda variável é suscitada pela valorização e lucro do negócio.
Renda variável proporciona crescimento econômico, pois uma empresa cresce agregando valor ao negócio, o que beneficia toda uma sociedade.
Conclusão
O juro nada mais é que o prêmio pago aos poupadores pelos emprestadores: consumidores que desejam consumir hoje, mas não possuem recursos suficientes.
Quanto mais poupadores, menor o juro, pois maior a oferta de dinheiro.
Existem agentes autorizados a intermediar o negócio entre poupadores e emprestadores. Fazer isto sem estes agentes é agiotagem. Crime.
Quanto menos você estiver suscetível ao apelo consumista, mais poderá poupar e assim consumir mais no futuro, pois sempre receberá um prêmio (juro) por retardar o consumo.