O ensino superior é de baixa qualidade no Brasil?
Olha eu aqui novamente escrevendo sobre educação.
A ideia desse texto surgiu de conversas com uma amiga virtual que pediu para não ter seu nome citado. Ela foi muito crítica e concordo em grande parte com ela.
Ela fala com conhecimento de causa, é pedagoga, pós-graduada em RH e estudante de psicologia. Atua como professora da rede estadual e municipal de ensino, ou seja, conhece a necessidade na prática. Já eu, para quem não sabe, sou administrador do controle acadêmico de uma Universidade Federal e apesar de não trabalhar diretamente com projetos pedagógicos, acabo me familiarizando um pouco com eles, afinal trabalho com mais de uma dezena de pedagogos responsáveis por eles.
O que escrevo abaixo é minha visão particular sobre a qualidade do ensino superior no Brasil.
Qualidade dos professores
Em termos curriculares os professores são bem qualificados. Possuem em geral mestrado e doutorado. Os problemas são três:
1) falta de habilidade didática. Saber é uma coisa, saber transmitir o que se sabe é outra coisa completamente diferente;
2) não gostar do ensino. Muitos professores não gostam de ensinar, gostam de pesquisar e ensinam por obrigação contratual. Tudo que é feito por obrigação tem qualidade duvidosa;
3) falta de visão da necessidade prática. A teoria na prática é sempre outra, o que é ensinado em sala de aula é muito diferente da encontrada no mercado de trabalho, ambos os mundos devem se aproximar.
Projetos pedagógicos
Quem define o conteúdo pedagógico de um curso, em geral, não trabalha na área; é apenas um teórico acadêmico. Conteúdos fundamentais são ignorados. A necessidade do mercado de trabalho é bem diferente do que é ensinado aos estudantes. Empresas deveriam ser consultadas para se conhecer o conhecimento que esperam de seus futuros profissionais.
Cursos técnicos têm formado melhores profissionais que universidades.
Grande número de escolas
O número de universidades e faculdades cresceu absurdamente nos últimos anos. Essas escolas têm que captar cada vez mais alunos para manterem suas estruturas através da mensalidade paga por eles. O problema é que a seleção dos alunos é para inglês ver. O vestibular existe apenas para cumprir as obrigações legais do MEC, na verdade quem presta passa.
O calouro não tem base nenhuma. Não aprendeu nada no ensino médio.
Com a progressão continuada ninguém repete o ano, e o cidadão recebe um diploma de ensino médio sem saber nada.
Aí ele começa o ensino superior e os professores tem que usar as aulas iniciais para revisar conteúdos que deveriam ter sidos aprendidos na fase anterior, faltando tempo para aprenderem o que foi proposto. E se o professor não revisar e quiser enfiar o conteúdo proposto guelá abaixo nos alunos ele irá reprovar 100% da sala. Aí, o diretor da universidade irá chamar o professor e falar algo do tipo: pega leve, caso contrário perderemos nossos alunos. O professor pensa: a escola perderá os alunos e eu meu emprego. Sendo assim, tudo é aliviado e mais uma vez os alunos terminam outra etapa, agora o ensino superior, sem base sólida alguma.
Ampliação de vagas nas Federais
Outro problema que vejo, este vejo de perto, é a grande ampliação através do REUNI no número de vagas em universidades federais. Com mais vagas a tendência é ficar mais fácil o acesso à universidade e a qualidade do ensino cair. Neste início os professores não aliviam e reprovam muita gente, mas até quando farão isso? Acredito que a tendência será o equilíbrio e consequentemente a redução da cobrança por parte dos professores para diminuir o volume de reprovações.
Os alunos
Os estudantes de hoje estão cada vez mais dependentes. Querem tudo nas mãos. Lembro-me que no meu tempo de ensino fundamental e médio tinha que ir a biblioteca, fazer mapa do Brasil em papel vegetal, ler livros durante o ano e apresentar seminários. Estudei em escola pública todos os anos.
Hoje os alunos não leem e não escrevem, usam a Internet para pesquisar CTRL C; CTRC V, não sabem se comunicar e dependem dos pais para tudo. Alunos de nível superior vão acompanhado dos pais e são eles que argumentam em favor do aluno. E quando pergunto: Quem é o aluno, o Sr. ou ele? ainda acham ruim.
Em resumo, muitos alunos são imaturos, mimados e não sabem resolver seus problemas sozinhos. Pior, não sabem conversar. Talvez via MSN?
Já escrevi muito, chega!
Ainda existem outros problemas, mas fico por aqui. Fique a vontade para discordar e criticar minhas ideias. Os comentários estão abertos e são bem-vindos.
Artigo relacionado: A situação do professor estadual do ensino fundamental e médio.