Não existe mais almoço grátis.
Com a SELIC em queda vai acabar a mamata de dinheiro fácil e sem risco da renda fixa. Convenhamos que aqui no Brasil é possível conseguir boa remuneração anual dos investimentos com risco quase inexistente. Esta realidade não existe em países desenvolvidos. Com nossa taxa básica de juro tão generosa o investidor pode aplicar em renda fixa em instituições sólidas, ou mesmo emprestar ao governo através da compra de títulos públicos, sem riscos. Ainda hoje é possível um retorno real de pouco mais de 5% ao ano com rentabilidade certa.
Só que pelo que parece este período de vida fácil nos investimentos está acabando, a SELIC fechará 2012 em 9% como apontou a ata do governo. Acredito que a queda só não será maior neste momento, pois para haver uma queda abaixo deste valor se faz necessário mudar as regras da caderneta de poupança. Isto porque caso a SELIC tenha valor menor, a caderneta de poupança passaria a remunerar melhor que o Tesouro Direto, aí a venda de títulos públicos perderia totalmente o sentido. Como 2012 é ano de eleição, e sabemos que os objetivos pessoais dos partidos falam mais altos que o bem social, e ainda que somente em pensar em mexer na poupança já causa um frisson danado, não haverá mudança. Desde que o ex-presidente Collor bloqueou os valores aplicados no investimento o brasileiro meio que blindou suas regras. A presidente Dilma terá que ter coragem e muito jogo político para conseguir alterar a forma de remuneração atual.
O governo adia desde o governo Lulu algo inevitável, não tem jeito, para termos uma taxa de juro menor é imprescindível alterar a forma de remuneração da caderneta de poupança.
O juro praticado no comércio é balizado pela taxa SELIC. Será? Enquanto a SELIC está em 9,75% ao ano o juro médio praticado no comércio passa de 108% ao ano. São valores absurdos.
Por que os juros não são menores?
A desculpa é que a SELIC é alta, mas a diferença é bisonha e pelo menos para mim esta justificativa é difícil de engolir. Num texto que publiquei outro dia escrevi sobre o custo oculto de uma compra a prazo, abaixo transcrevo parte do que escrevi:
> > **Abertura de crédito** > > > > Numa venda à vista o cliente não precisa realizar cadastro, já numa venda a prazo precisamos preencher dezenas de informações pessoais e pagamos o custo deste serviço, pois a empresa contratou um funcionário para realizar esta tarefa. > > > > **Boletos** > > > > Existe o custo de impressão do boleto. E quem paga por ele é você. > > > > **Serviços de proteção ao crédito** > > > > Para comprar a prazo você precisa ter seu crédito aprovado. Para isto a empresa em que você está comprando consulta os serviços de proteção ao crédito e ela tem um custo para realizar consultas. Advinha quem paga este custo? Acertou. Você mesmo. > > > > **Inadimplência** > > > > O custo da inadimplência é pago pelos clientes que pagam a parcela em dia. Este é mais um custo que você terá. > > > > Agora entre todos estes custos, na minha visão, o que encarece tanto o custo de uma venda a prazo é a inadimplência: os bons pagadores pagam caro pois devem cobrir o prejuízo dos que irão dar calote. Isto mesmo, você bom pagador paga pelo mau pagador. > >
Como resolver este problema?
Com o governo criando regras mais rígidas de punição contra os caloteiros. Os serviços de proteção ao crédito podem manter em registro um CPF por no máximo 5 anos. Ouvi outro dia um cara de pau dizendo que usava como estratégia o realizar a compra de vários produtos e não pagar, aí o nome ficaria sujo por 5 anos, ele não poderia comprar nada, mas já havia mobiliado a casa toda, dali alguns anos ele voltaria a repetir a tática de sucesso. O pior é que isto foi narrado com orgulho, como algo do tipo: viu como sou esperto.
A lista de bons pagadores como foi tão discutida no ano passado seria uma maneira de diminuir o valor cobrado nos financiamentos. O lastro seria formado pela boa política de relacionamentos anteriores. Sou a favor.
Agora o caloteiro deveria ser punido. Comprou e não pagou, deveria ter parte da renda descontada no dia do pagamento para pagar as dívidas. Pelo menos em produtos não essenciais, aqueles comprados por puro luxo, os supérfluos.
Voltando a falar sobre investimentos, nós investidores teremos que correr maiores riscos para obter maior rentabilidade nos próximos anos, o almoço grátis da renda fixa está acabando. Teremos que fazer dinheiro e não apenas ganhá-lo através do recebimento de juros. Chamo “fazer dinheiro” o ganho obtido em ativos que se valorizam: uma empresa listada em bolsa, um terreno, uma empresa, a agregação de valor a um serviço. Aqui volto a recorrer a outro texto escrito em 2010:
> > Quem viveu no Brasil até o século XX e investiu, provavelmente ganhou dinheiro até com certa facilidade e baixo risco. Na minha visão, ganhar dinheiro é quando o investimento realizado não cria dinheiro, simplesmente o transfere de mãos. Uma instituição bancária ganha dinheiro captando a juros baixos e emprestando a juros altos, o chamado **_spread_**. Perceba que não é criado dinheiro, ele apenas muda de dono. > > > > Os juros brasileiros sempre foram um dos mais altos do mundo. E isto é ruim para o país, pois mitiga o crescimento. Porém, é vantajoso para o “emprestador”, afinal, juros altos, rentabilidade alta nos negócios. Tanto o governo como diversas empresas sempre gastaram mais do que arrecadaram, sempre estão precisando de dinheiro, e quem está do outro lado, do lado “emprestador”, sempre se deu bem com isso. > >
Com o Brasil se tornando um país mais maduro, pelo menos do ponto de vista econômico, nossa taxa básica de juro tem que ser reduzida para taxas sustentáveis, e com isto o investidor que deseja investir e fazer suas economias multiplicar terá que correr maiores riscos. Investir em renda variável, principalmente em ativos de valores reais, terá que ser uma realidade. Não sou defensor da especulação, porém é óbvio a necessidade da existência dos especuladores para proporcionar liquidez ao mercado. Defendo o investimento em ativos sólidos, ativos de valor e crescimento econômico. Diversificar os investimentos será ainda mais importante, a diversificação entre classes e mesmo entre ativos de uma classe será fundamental para sair vencedor num mercado em amadurecimento.
Para finalizar ressalto a importância da busca de conhecimento sólido. Não deixe sua vida financeira nas mãos de outrem, seja senhor de suas finanças. Invista somente naquilo que você conhece o funcionamento, não seja ludibriado pelo gerente de banco e nem siga a maré, tome decisões financeiras de forma racional, com base em estudos, em probabilidade, e não no “eu acho”.
Termino com uma regra clássica, mas que nunca é demais ser lembrada: rentabilidade passada não é garantia de rentabilidade futura.
Boa semana.
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