Método para a educação financeira.
Não podemos falar em educação financeiramente formal no Brasil. Tal procedimento não existe. Os poucos indivíduos educados financeiramente o são por buscarem o conhecimento por conta própria. Ou por uma necessidade percebida ou por terem sido persuadidos por amigos ou familiares a buscarem uma maior conscientização do bom uso do dinheiro.
Aqui não existe a ação da busca pela educação financeiramente. E para haver ação deve haver aceitação, que por sua vez para acontecer se faz necessária a conscientização do indivíduo, sendo, portanto, este o primeiro passo rumo à educação financeira.
Nós cidadãos com consciência financeira temos como primeiro passo o sensibilizar aqueles que estão nas trevas e trazê-los à luz.
Eu classificaria a sensibilização como o marco zero, sendo o segundo passo uma avaliação diagnóstica para conhecer o grau de conhecimento financeiro do individuo. Existem indivíduos com certo conhecimento financeiro, mas não conscientizados, sendo assim eles conhecem mas não agem no sentido do conhecimento que possuem.
O professor Elisson em recente artigo publicado em seu blog levantou a hipótese do aumento da complexidade dos produtos financeiros pela inércia do indivíduo em mudar seu comportamento financeiro. Eu acrescento o apelo agressivo ao consumo de supérfluo que somos bombardeados diariamente. A junção da complexidade em investir com o estímulo ao consumo tem gerado indivíduos possuidores de bens supérfluos parcelados e sem poupança. Eles vivem no limite orçamentário, gastam exatamente o que ganham quando não extrapolam este valor tendo que fazer uso do crédito pré-aprovado disponível – cartão e cheque. Como o professor Elisson bem elucidou em seu texto a complexidade não pode ser usado como desculpa. Eu digo a mesma coisa em relação à propaganda, ela não pode servir como desculpa para o consumo desenfreado e irresponsável. Como seres pensantes e com livre arbítrio somos inteiramente responsáveis por nossas decisões. Somos indesculpáveis. Devemos ao menos ter a hombridade de assumir nossas escolhas, más escolhas, mas nossas.
Este e outros blogs que possuem o tema finanças como foco sempre explanam sobre produtos financeiros, porém dão pouquíssima atenção a conscientização financeira. O foco acaba sendo no individuo já sensibilizado, àqueles que já se conscientizaram da importância de se gastar menos do que ganham e investir o excedente de forma a fazê-lo trabalhar por você.
Método para a educação financeira
Um método é uma sequência de atividades a serem realizadas passa-a-passo com a intenção de se alcançar um objetivo específico.
Talvez seja pretensão de minha parte querer propor um método para se educar financeiramente um indivíduo, mas de uma maneira superficial irei ousar e propor um.
Porquê de um método?
Pois o aumento do endividamento das pessoas somadas ao aumento da expectativa de vida e da incerteza de nossa previdência pública garantir a renda do cidadão que se aposenta se faz fundamental o economizar e investir.
O objetivo é conscientizar o indivíduo e fazê-lo agir neste sentindo. Somente a conscientização sem ação não é suficiente, e nem mesmo a ação sem conhecimento. O objetivo é termos um indivíduo sensibilizado e que age, ou seja, que gasta menos do que ganha, que mantém uma reserva de emergência e investe parte da renda visando sua aposentadoria.
Proponho um método sequencial e evolutivo em 5 etapas: a) conscientizar o individuo da necessidade de manter um fluxo de caixa positivo; b) ensiná-lo como manter o fluxo de caixa positivo; c) formar uma reserva de emergência em caderneta de poupança; d) aprender sobre os diversos produtos financeiros disponibilizados no mercado e e) habilidade em tomar decisões financeiras.
Conscientizar o individuo da necessidade de manter um fluxo de caixa positivo
O primeiro passo é provar que a compra parcelada está sempre acrescida de juro. Mesmo quando o estabelecimento comercial afirme que não; ele mente. Vendas a prazo embutem juros. Mesmo que não seja concedido desconto para a compra à vista, devemos conscientizar o individuo que o processo com um todo foi pensando numa venda parcelada e o valor de venda definido envolvem os custos de uma compra parcelada.
Ainda usar como método de persuasão os imprevistos que todos estamos sujeitos: perda de emprego, doença, acidentes. Ainda podemos argumentar que um fluxo positivo permite aproveitar oportunidades momentâneas: a compra um bem abaixo de seu valor de mercado por seu dono precisar de dinheiro imediatamente.
Ensiná-lo como manter o fluxo de caixa positivo
Aqui o uso de técnicas deve ser ensinado. Ir ao shopping sem cartão de crédito ou cheque quando não se pretende gastar; fazer uso de uma planilha financeira para entender o fluxo de saída do dinheiro e assim poder realizar cortes pontuais; um olhar menos atento às propagandas; provisionamento de gastos futuros (IPVA, IPTU, conselho regional). Cabe salientar a importância de se criar um mecanismo que retorne ao desejado em caso de desvio. É comum se começar a todo vapor e com o passar do tempo ir perdendo fôlego. Uma maneira de se manter na linha deve ser traçado.
Um fluxo de caixa positivo deve ter possuir 4 itens: renda, despesa, poupança e investimento em educação. Quando digo poupança me refiro a investimentos que visam proteger os valores economizados do poder corrosivo da inflação e, se possível, multiplicá-lo. Já o investimento em educação é a reserva de valor visando à continuidade do fator gerador de renda; é a atualização profissional continua visando manter ou aumentar a renda.
Formar uma reserva de emergência em caderneta de poupança
A reserva de emergência proporciona segurança. Ela é a reserva de valor em um investimento líquido em quantia suficiente para cobrir as despesas mensais de ao menos 3 meses. A reserva ideal em minha análise deve ser suficiente para suprir 6 meses de ausência de renda para trabalhadores assalariados e 12 meses para comissionados.
A velha e boa caderneta de poupança é o investimento ideal. Vejo que neste etapa o indivíduo ainda se encontra na fase de sensibilização. Apesar de já gastar menos e controlar o fluxo de caixa ainda não entendeu por completo a importância da educação financeira, ele ainda pode sofrer recaídas, e apresentar investimentos mais complexos pode afugentar o recém cidadão educado financeiramente.
Aprender sobre os diversos produtos financeiros disponibilizados no mercado
Estudar. Neste momento o individuo já é alguém educado e possui uma reserva de emergência consolidada ou está em fase avançada de consolidação. Aqui a busca de conhecimento financeiro para melhor diversificar os investimentos é algo natural. A caderneta de poupança já é algo tão básico que naturalmente se busca conhecer outras modalidades que remunerem melhor em renda fixa. Entender como funciona a Bolsa de Valores é o próximo passo. Entender e não necessariamente investir. Aqui quanto mais se aprende mais fascinado se fica pelas diversas possibilidades e estratégias que o mercado oferece. Cada autor fala e escreve uma coisa, muitas vezes opostas. O novato fica confuso com tanta opinião sobre investimentos. Se aceita tudo e se critica pouco. Tudo parece correto e a grande maioria das estratégias apresentadas realmente aparenta ser corretas.
Habilidade em tomar decisões financeiras
A fase anterior poderá durar alguns meses ou mesmo anos. Cada um tem seu tempo e fazer comparações é errado. Nesta última fase já se toma decisões financeiras com segurança e se é capaz de discutir estratégias e realizar criticas. Alguns ficam arrogantes achando-se especialistas. Estes costumam tombar feio. Humildade para sempre estar evoluindo e aprendendo com os outros é fundamental. Nunca se sabe tudo e sempre é possível evoluir.
Vou parar por aqui. Fui superficial eu sei. Cada uma destas 5 etapas precisariam ser muito bem trabalhadas e melhor explanadas. Quem sabe num artigo científico qualquer dia, ou mesmo num livro. O certo é que para um simples artigo de blog o texto já ficou grande demais.
Boa semana!
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