Funcionário público é vagabundo?
A visão que a grande maioria da sociedade tem do funcionalismo publico é que ganham bem e trabalham pouco. Isso é verdade?
Uma pesquisa do Dieese mostra que o salário médio no serviço público é quatro vezes maior que na iniciativa privada. São R$ 4.052 contra R$ 999. Só que está visão é falha, na realidade são poucos ganhando muito e muitos ganhando pouco. Auditores fiscais da Receita e do Trabalho e advogados da União iniciam a carreira ganhando entre R$ 13.067 e R$ 14.549. Isso é exceção, a grande maioria dos servidores públicos ganha o que o restante da população ganha, ou seja, pouco.
São vagabundos?
Assim como em qualquer organização existem bons e maus profissionais. O mau atendimento é uma realidade na quase totalidade dos estabelecimentos, sejam eles públicos ou privados. Se pensarmos em chefes despreparados, em cargos atribuídos por “coleguismos” e privilégios dados a alguns poucos, isso ocorre no serviço público como nas empresas privadas, nada é diferente.
A pressão por resultados, o excesso de serviço e a falta de material e tecnologia adequada para o bom desempenho da função é igual no serviço público como nas empresas privadas.
O que muda então?
Diferente das empresas privadas que vão até onde a lei não as proíbe, as organizações públicas fazem apenas o que a lei as autoriza; e aí está o grande problema, a lei é antiga, retrógrada, mal redigida e burocrática. O servidor público não pode fazer nada. Ele não vai arriscar seu emprego fazendo algo ilegal, mesmo que sendo o certo a se fazer, e correr o risco de ser processado e mandado embora. Por isto, muitas vezes, o serviço não anda.
Ainda existe o profissional mal preparado e sem aptidão alguma para a função que exerce. Como os concursos públicos cobram teoria e a teoria na prática é outra, acabam selecionando candidatos com ótimo preparo intelectual, porém com inteligência social e emocional péssimas. No dia-a-dia, todos sabem que a inteligência quase sempre é menos importante que o bom senso, que a empatia e a boa vontade. Acontece muito de um profissional com uma inteligência suprema e um mau humor proporcional a sua inteligência ter que atender pessoas no balcão e é claro que isto não da certo.
Como mudar isto então?
O governo federal tem procurado melhorar a qualidade na prestação do serviço público e, em minha opinião, tem obtido sucesso, mesmo que a passos de tartaruga. Nos últimos anos a qualificação do servidor público tem aumentado significativamente, o atendimento ao público tem sido feito com mais profissionalismo e alguns procedimentos estão, aos poucos, sendo menos burocráticos e mais simples.
O governo começa a estudar uma política de gestão por competência, o termo não é novo, mas colocá-lo em prática que é o complicado.
Os concursos estão sendo mais bem elaborados, tem-se buscado uma aproximação do que é cobrado na prova com a função a ser exercida pelo futuro servidor. Os editais também são mais claros ao relatar o que se espera do servidor.
Agora cabe também ao cidadão ter uma maior consciência que o serviço público é um serviço igual a qualquer outro, que deve ser prestado com dedicação. Muitos estudam para passarem em concursos já pensando que vão trabalhar pouco e vagabundear bastante – com esta mentalidade fica difícil algo dar certo.
Para concluir, já escrevi muito, duas coisas, no meu modo de ver a situação, são fundamentais:
1) A população cobrar um bom atendimento, fazer valer seus direitos. Porém também ser paciente, entender que muitas vezes o culpado é o sistema e não o servidor que lhe atende. Devemos cobrar o governo por mudanças nas leis, por um plano de melhora efetiva na prestação dos serviços públicos.
2) O cidadão que ingressar na carreira pública estar ciente que este é um serviço igual aos demais; não usar a estabilidade como muleta. Sempre se fazer a seguinte pergunta: Com a qualificação e experiência que tenho hoje estaria empregado no setor privado com o mesmo salário que ganho aqui? E se a resposta for não ele deve ir se qualificar, aprimorar conhecimentos e buscar ser digno do salário que recebe.