Esqueça a Análise Fundamentalista e invista em ETF

Esqueça a Análise Fundamentalista e invista em ETF

O título é forte eu sei, mas ele reflete o exato tom que desejo transmitir com este post. Deixa-me começar me defendendo: de forma nenhuma menosprezo a compra de papeis com base numa análise dos fundamentos da empresa, só acredito ser muito trabalhoso o monitorar constantemente empresas para compor uma carteira de ações. Para aqueles que trabalham diariamente no mercado a tarefa já é árdua, para o que não trabalha impossível.

Como primeiro argumento, alerto da dificuldade de comparar balanços contábeis de empresas de setores distintos. Uma empresa de transporte ao adquirir um novo caminhão para sua frota incorpora o veículo como ativo e realiza anualmente sua depreciação, enquanto uma empresa farmacêutica que tem um gasto intenso com P&D o registra como despesa. Isto pode falsamente aparentar que suas despesas foram altas, quando na verdade estes gastos também deveriam ser capitalizados e depreciados ao longo dos anos. Esta empresa ao apresentar um baixo lucro pode na verdade estar preparando o caminho para um grande salto de qualidade e ganhos substanciais no futuro, mas seu balanço contábil não refletirá isto. Para as normas contábeis o caminhão é um ativo, porém o gasto com P&D é despesa; o que para uma empresa que dependa da pesquisa para a criação e inovação é exatamente o contrário, sendo o gasto com P&D um ativo.

O pagamento de dividendos é outra forma que apresenta buracos. Sabemos que as empresas são obrigadas por lei a distribuir 25% de seus lucros na forma dividendos. Mas a alta distribuição de dividendos pode não ser bom indicador de solidez. Uma empresa que não distribua dividendos além daqueles obrigados por lei pode estar fazendo uso do seu lucro operacional para reinvestir na empresa de forma a aumentar sua efetividade e produtividade e assim agregar valor que, consequentemente, mais cedo ou mais tarde, irá refletir no preço da ação. Já uma empresa que distribua altos dividendos pode na verdade não estar sabendo usar seu lucro para agregar valor à empresa e, desta forma, no futuro, ela pode não ser competitiva. É claro que isto são apenas hipóteses, o que quero dizer é que somente olhar o dividend yield sem uma análise mais detalhada através destes números é furada. Lucros não pagos na forma de dividendos ainda podem estar sendo investido a juros compostos, o que irá aumentar o valor do próprio lucro de forma exponencial.

Um dado muito usado na análise fundamentalista é o P/L, mas cuidado, pois uma empresa que vem apresentando perda de valor no mercado poderá ter uma relação P/L interessante, o que, em nada, refletirá sua verdadeira situação econômica. Tome a Gafisa (GFSA3) como exemplo. Um P/L visto isolado não serve para nada, ele tem que ser analisado com vista a uma projeção de crescimento futuro dos lucros.

Usar o valor contábil também apresenta problemas, primeiro porque os registros contábeis apresentam o valor de compra de um ativo ignorando sua valorização/desvalorização; e o segundo por não refletir o valor intelectual. Pense no Google, seu valor contábil está aquém de seu real valor de mercado. Ainda acrescento o prestígio de uma marca, a marca Coca-Cola tem maior valor que o valor somado de todas as suas fábricas espalhadas pelo mundo.

Uma análise precisa para uma escolha de papeis deve levar em consideração todos estes aspectos, o que, a meu ver, não é possível. Dados contábeis ainda podem ser mascarados, todo contador sabe disto, e isto de forma legal. Ainda não podemos descartar fraudes, o banco Panamericano é um caso recente.

As vantagens dos ETFs

** **Recomendo fortemente o investimento passivo para investidores que possuam um horizonte de 10 anos ou mais.

Para quem está começando e pretende investir pelos próximos 30 anos eu recomendo uma alocação muito forte em ETF, algo entre 80% e até mesmo 100%. Recomendo a venda e migração para ativos de menor volatilidade e que paguem yields ou cupons 5 anos antes da intenção de fazer uso dos recursos.

A história mostra que investimentos em ações, apesar da alta volatilidade (risco), superam no longo prazo os demais investimentos. O IBOV, desde a criação do real, apresenta uma rentabilidade nominal anual de 16,99%. Dados do mercado americano, um mercado mais maduro que apresenta dados de mais de 200 anos, também comprova que apesar da baixa em alguns períodos o investimento em ações ganha de ativos de renda fixa no longo prazo.

ETFs como o PIBB ou BOVA refletem o mercado, já as ações individuais exigem monitoração constante, pois a escolha tanto pode ser um tiro na mosca como também bem fora do alvo. Fora que empresa nenhum está livre da possibilidade de quebrar, exigindo assim monitoração de seus fundamentos periodicamente, já as ações que compõe um ETF obedecem a critérios rígidos e uma ação deixa de compor o índice quando a empresa apresenta problemas. E a administração do ETF se encarrega disto e nós, investidores e não operadores do mercado podemos curtir a vida com o que realmente é importante, e não gastar tempo vendo luzes azuis e vermelhas piscando na tela do computador.

Aplicar usando como estratégia o DCA em ETFs é fácil, simples e apresentará uma rentabilidade maior no longo prazo. Se o holder ainda aplicar porcentagens de suas receitas ao invés de valores fixos ele não precisará nem mesmo se preocupar com a inflação, pois seus aportes acompanharão seu aumento de renda que tende a no mínimo ser corrigido pela inflação anual no dissídio da categoria.

Quanto à necessidade de diversificação em outras classes de ativos ela irá depender do seu perfil e aversão ao risco. Eu não vejo problemas de uma alocação exclusiva em ETFs quando se tem 30 anos para aportes. Eu apenas começaria a diversificar nos 10 anos finais de investimento e ficaria menos exposto às ações nos 5 anos finais. Um jovem de 25 anos de idade que comece a investir hoje com um horizonte de 30 anos, ou seja, que pretenda fazer uso dos recursos aplicados aos 55 anos, eu recomendo uma alocação 100% em ETFs nos próximos 20 anos, e somente após este longo período iniciar aportes em ativos menos voláteis: CDB, LCI, Fundos Imobiliários. Já nos 5 anos finais se iniciaria a venda gradual dos ETFs e alocação do valor da venda em ativos bons pagadores de cupons, yields e dividendos.

Conclusão

Se seu objetivo não é ganhar do mercado e sim ficar com a rentabilidade média que ele apresenta a melhor escolha são os ETFs.